Bernadete projeta governo humanizado, se eleita, com atenção especial ao trabalhador

Bernadete se coloca como a que representa o novo e busca atingir o eleitorado de mulheres, jovens, primeiro voto e idosos, principalmente

Candidata do PSOL, Bernadete Aparecida, fala sobre propostas para o governo
Descrição: Candidata do PSOL, Bernadete Aparecida, fala sobre propostas para o governo Crédito: Ascom/Bernadete

A segunda entrevistada para a série do T1 com os governadoriáveis do Tocantins é a Bernadete Aparecida Ferreira (PSOL). Ela defende bandeiras de direitos humanos e das mulheres, seu principal trabalho como gestora de uma Organização Não-Governamental (ONG) em Palmas, durante 20 anos.

 

A candidata tem realizado reuniões com grupos segmentados e apresentando seu plano de gestão, voltado especialmente para um governo humanizado, de valorização do trabalhador e para o povo.

 

Sua campanha tem sido feita a partir de doações. Ela não tem bens e, por isso, não os declarou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

 

Bernadete se coloca como o que representa o novo e busca atingir o eleitorado de mulheres, jovens, primeiro voto e idosos, principalmente. Garante que fará um trabalho com profissionais capacitados e um governo democrático e participativo.

 

Podemos fazer muita coisa e nós, sem dúvida nenhuma, somos a diferença

 

Ela destaca sua experiência à frente da Casa da Mulher 8 de Março, durante 20 anos, e sua formação acadêmica, educadora com formação em Pedagogia e Direito, bacharel em Teologia e Mestre em Direitos Humanos, para declarar ao eleitor do Tocantins que está pronta para ser eleita governadora.

 

Confira a entrevista 

 

1 – Por qual motivo a senhora se dispôs a ser candidata nessas eleições?

 

Porque, em tantos anos de militância partidária, nosso partido chegou a conclusão de que era hora de ter uma candidatura própria, de apresentar à sociedade do Tocantins uma alternativa ao que está aí colocado e o imenso desinteresse da população em votar, em confiar, que novas pessoas podem surgir no cenário político e realizar um trabalho de confiança, transparente. Junto a isso, o fato de eu, como feminista, ser do movimento político que trabalha a transformação da sociedade por meio de novas práticas políticas. Nós lutamos pela reforma política, pela maior participação das mulheres na política. E com a morte da Mariele Franco, vereadora do PSOL, foi desenvolvido um movimento para uma campanha nacional a fim de que as mulheres feministas de militância entrassem na politica. Casou esses dois motivos. Eu estava disposta a sair candidata a senadora, mas o candidato que seria, o que saiu nas suplementares, não podia, então eu fui escolhida pelo meu partido para ser a candidata a governadora. Estou satisfeita.

 

2 – A senhora diria ao eleitor tocantinense que é a novidade, diante do atual cenário de candidatos?

 

Eu sou a novidade e eu sou a alternativa. Sou diferente de tudo isso, não tenho carreira política, mas tenho uma extensa carreira de atuação coletiva com bons resultados. Como a gente tem a intenção de fazer um governo pautado pelo respeito aos direitos humanos e a concretização de políticas públicas de estado, principalmente políticas sociais, para melhorar a vida das pessoas, eu acho que encarno nesse momento essa alternativa. Por priorizar mulheres e jovens que são o público que está mais descrente dessa realidade política. Essa candidatura é mais pra essas pessoas, pra representar essa esperança.  

 

3 – A senhora nunca teve cargo público ou político. É ousado já entrar e concorrer pra chefe do executivo?

 

Não é uma ousadia, porque eu me enquadrei no perfil. Eu sou a pessoa que está sendo esperada tanto pelo meu partido, quanto por vários movimentos sociais. Não tenho experiência em órgão público, mas tenho minha experiência em advocacy, em mostrar pra gestores onde estão errando. E aprendi dentro do movimento como se elabora uma política pública, como funciona o círculo orçamentário, como se planeja um governo. Não tenho medo! Eu estou muito bem preparada e eu confio nas pessoas que vão trabalhar comigo! E tudo num processo democrático participativo, então é uma gestão com o orçamento participativo, fóruns permanentes, ouvidoria, conselhos, coisas que são gestão e estão presentes na prática que já vivencia.

 

4 – Eleita governadora, quais seriam suas primeiras providências nesse estado?

 

Vamos montar a equipe e fazer o primeiro fórum. Fazer um levantamento geral da situação, uma boa transferência de governo. É lógico que a gente já sabe que vai encontrar muita coisa ruim. Levantamento de como estão as contas públicas; o saneamento das contas públicas é uma das primeiras coisas.  Ao mesmo tempo, a gente espera que governos de esquerda assumam o Governo Federal e vamos abraçar e endossar uma luta para reverter as reformas: a primeira, reforma trabalhista; e a segunda é a da PEC [Proposta de Emenda Constitucional] que limita os gastos públicos durante 20 anos e que vai afetar, com certeza, as verbas para os principais direitos sociais, como educação, saúde e trabalho. Sem essa luta conjunta, nós não podemos dizer que vamos transformar o estado. Nós desejamos, por exemplo, 35% do orçamento para a educação.

 

5 – O que a senhora pretende fazer para encaixar o estado dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e o que tem a dizer para o servidor público?

 

Para servidor publico, vou respeitar seus direitos adquiridos. Manter os que são concursados e desenvolver novos concursos, manter os servidores todos dentro da legalidade. O concurso público é prioridade e dentro da política para servidores, ter um olhar diferenciado para a mulher servidora. O direito desse servidor não será tomado e nem será usado para barganha, como hoje é. Respeitar a lei é respeitar o servidor.

 

6 – Como referência em defesa dos diretos humanos e das mulheres, principalmente, o que a senhora tem como projeto para essas áreas?

 

É preciso instalar uma política estadual voltada para as mulheres. Tem que ter a política estadual, estrutural, com orçamento próprio, capacidade de ordenamento das despesas, com gestor e uma secretaria de base. Criar uma Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres, onde as principais ações serão no sentido de prevenir, coibir e erradicar a violência contra as mulheres através do apoio. Fomentar uma rede de atendimento, com bons profissionais, mas também de apoio a outras áreas da vida das mulheres, trabalhando com outras secretarias. Todas as secretarias terão de ter orçamento para políticas para as mulheres, na saúde, na educação, no trabalho.

 

7 – O que a senhora tem a falar sobre o feminicídio?

 

Existe Delegacia da Mulher em 13 localidades, muito pouco para o estado com 139 municípios. Os dados mostram que temos que ter um olhar especial para o feminicídio, tentativa de feminicídio e feminicídio das mulheres negras no nosso estado. Então é trabalhar com campanha de conscientização da população e gestores sobre o assunto, apuração, responsabilização e tratamento de agressores, proteção às mulheres ameaçadas, monitoramento da violência contra a mulher, instalação de um observatório dentro do próprio Governo. A gente tem que capacitar pessoas, montar um sistema e todos os órgãos trabalharem concatenados.

 

8 – E para a juventude?

 

Para começar, a  área da criança e do adolescente carece de políticas. Fome e educação de baixa qualidade; Índice de Desenvolvimento Humando (IDH), um dos mais baixos, afeta a vida da criança e entra na adolescência afora. Na juventude é preciso estudar, trabalhar, e não se tem acesso ao primeiro emprego. É uma juventude muito cobrada e não respeitada na sua formação íntima. Então, junto com o que se possa fazer de educação e trabalho para juventude, tem que  ser pensado também lazer, cultura e esporte. Quero criar uma política que concatene educação, trabalho, lazer, cultura e esporte. É prioridade do meu governo, que defende os direitos humanos. Vamos atuar nas coisas em que os jovens são mais culpabilizados e criminalizados, vamos ter um governo antiproibicionista.

 

9 – Sua opinião sobre o aborto.

 

Sou do movimento feminista, mas oriunda de trabalhos pastorais desde a adolescência, de missão católica, teóloga, educadora social e formada em Direito. Esclareço isso para dizer: eu sou uma pessoa de fé. Esse preâmbulo eu faço para explicar, porque mesmo não apoiando o aborto ou nunca tendo feito e nunca faria, eu sou favorável a descriminalização do aborto nos pontos em que já está descriminalizado e corre o risco de voltar a ser considerado crime, principalmente o ponto em que é permitido às pessoas que sofrem estupro fazerem o aborto, através da PEC 181, e também quando as mulheres assim decidirem. Há um alto índice de aborto no Brasil, que atinge mais mulheres jovens, negras e pobres. Eu sei que essa prática inicia-se muito cedo nessa região, na adolescência, principalmente depois de violência sexual, mulheres pobres, que não podem mais ter filhos e que os mecanismos de prevenção falharam ou ela não teve acesso. Acho que tem que ser disponibilizado no serviço de saúde no sentido amplo e as mulheres poderem decidir. E, ao decidirem, à elas serem prestados todo o apoio possível e muitas, nesse processo, até desistem. É provado que onde foi legalizado, houve diminuição do aborto. Minha posição é pela descriminalização do aborto. E conhecendo a forma como as mulheres daqui fazem aborto, sem condições nenhuma de saúde, não tenho dúvida em declarar minha posição pela descriminalização. Então eu sou favorável a descriminalização, ou seja, a retirada total, sem consequência, sem limitação, dessa questão do aborto do nosso código penal. Enquanto isso não acontece, eu defendo o aborto até 12 semanas, como agora a ADPF 442 (Arguição de Preceito Fundamental) luta e assim acho que sou mais coerente pela luta em defesa da vida das mulheres.

 

10 - Outros projetos a destacar?

 

Temos projetos para tudo. Na área da indústria, da energia alternativa, para geração de empregos para as pessoas. Incentivo para valorização da mão de obra local. Na economia, apoio do Estado para a economia solidária, feiras, comércio de coisas do Tocantins, economia eficiente, arrecadação progressiva condizente com o tamanho da empresa e comércio... Também queremos a geração de empregos junto com a diminuição da carga horária semanal de 44 horas para 40 horas semanais. Nosso Governo tem uma preocupação muito forte com a classe trabalhadora. Mais apoio para a pequena agricultura e para a agricultura familiar.

 

11 – O que tem a dizer para o eleitor tocantinense?

 

Eu preciso de no mínimo 400 mil votos. Eu espero que as mulheres possam confiar nessa pessoa que aqui está, que eu vou desenvolver no Governo um trabalho muito honesto e dedicado, como o que eu tenho feito ao longo da vida com os movimentos sociais e as organizações da sociedade civil. Quero dizer que é possível trabalhar com uma governante de um partido de esquerda que, aos poucos, vai construindo uma sociedade mais justa e igualitária.

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