Quem vai chorar por Bruno Kauan?

A morte do pequeno Bruno Kauan, em Colinas, após a longa espera por uma UTI Aérea que não chegou, por falta de pagamento, faz pensar no sistema de Saúde que temos. Quantos ainda morrerão desse jeito?

Comunidade pede que hospital seja encampado
Descrição: Comunidade pede que hospital seja encampado Crédito: Divulgação

Uma tristeza, daquelas sem fim, passou a fazer moradia desde a noite de ontem, no coração de Djone e Di Selma, pais de um filho só, Bruno Cauã,1 ano e sete meses, que parou de respirar por volta das 13 horas, quando deu entrada no Hospital Municipal de Colinas, entalado com um pedaço de carne.Lá foi socorrido com os recursos de que o hospital dispunha. Mas não resistiu e faleceu mais de 9 horas depois. 

 

Milhares de pais têm perdido seus filhos assim, nos primeiros anos de vida, por problemas respiratórios ou gástricos, provocados por pequenos acidentes domésticos.

 

Milhares de outras crianças se salvam dos mesmos problemas.

 

A diferença está no atendimento que recebem. Na rapidez e eficiência de um atendimento médico.

 

A revolta de Djone, o pai de Bruno, um homem simples que trabalha polindo ferro em Colinas, é perfeitamente compreensível. Ele passou pelas nove horas de agonia entre a entrada do filho no hospital, as promessas de que o socorro estava vindo e as decepções, até a chegada da notícia do óbito do menino, às 22h15, uma hora e meia depois que a UTI terrestre chegou de Araguaína para socorrer a criança que aguardou durante longas horas no hospital, com febre, quadro instável.

 

Quem vai chorar por Bruno, além da família e dos amigos que desde ontem lotaram a porta do hospital, revoltados?

 

A médica que atendeu o bebê, chamou reforço da PM, temendo pela segurança da equipe diante do clima de indignação que tomava conta do local.

 

O pai foi “despistado”, com a versão de que se preparasse para acompanhar o filho até Araguaína -  conforme relatou o tio de Bruno, Edvaldo, por telefone, ao T1 Notícias – enquanto se esperava a portaria esvaziar e a polícia chegar para que a notícia do óbito pudesse ser dada.

 

Uma tristeza. Um desconsolo geral. Só quem tem filho sabe.

 

Quando o corpo do pequeno Bruno Cauã descer à terra no começo desta tarde quente do verão tocantinense em Colinas, às 14horas, o problema do atendimento à crianças necessitadas de um socorro com urgência através de UTI, ainda estará presente na vida de dezenas de pais.

 

Em nota, encaminhada à redação do Portal na manhã desta quinta-feira a Sesau lamentou o ocorrido, e admitiu a dívida que impediu que a empresa atendesse o chamado - e quem sabe – salvasse a vida do pequeno Bruno. Quanto vale uma vida?

 

Tenho dito aqui muitas vezes, que as pessoas comuns estão alheias à política. Se sentem distantes do mundo da política partidária. Rejeitam esse sistema embrutecido e corrupto em que a Saúde é um dos grandes dutos por onde escorre o dinheiro público em esquemas espúrios.

 

Seu Djone não vive esse universo de políticas públicas, direitos e deveres. Mas sabe o mínimo, como deixou claro no momento da dor da perda do filho ao desabafar: "Esses político desgraçado, nenhum deles presta, dona. Deixaram meu filho morrer à míngua aqui. Eu só tinha ele só”. 

 

A revolta tem endereço certo. Ele não citou um nome, mas uma categoria inteira.

 

É assim que vai ficando o cidadão: descrente nos seus representantes.

 

É uma gente que não quer muito, não pede muito, mas precisa do mínimo.

 

O caso de Bruno com certeza terá outros desdobramentos. Sua morte terminará acrescentando um número a uma estatística.

 

Mas enquanto os pais choram sua perda, outros pais se comovem e compartilham um sentimento que é pior do que a dor: o do abandono. A solidão da falta de assistência. O sentir-se um João Ninguém na antesala de um hospital qualquer ou de um postinho do interior sem medico, sem remédio, sem saída que não seja uma ambulância rumo à cidade grande.

 

Até quando?

 

Que o governo, o Ministério Público, a Justiça, possam ouvir o choro e o lamento dos pais de Bruno, antes que outros chorem.

 

Eu de mim estou triste. Por Bruno choramos todos nós que temos pequenos anjos dependentes de vez em quando ou sempre do atendimento de saúde pública para sobreviver.

 

Que alguém responda por isso acima de nós.

 

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