Um movimento de cor

Crédito: Divulgação

 

Estando imersa nas falas geradas pela empolgação despertada pelo encontro dos movimentos sociais - em especial os movimentos por moradia -, com o ministro Alexandre Padilha, das relações institucionais do governo Lula, constatei que o movimento social é negro, visualmente 70% (veja que é um cálculo estimado) das pessoas que estavam no auditório da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, eram pessoas negras, em 11/11, sábado último.

 

Achille Mbembe (2019), em "Políticas da Inimizade", cita Franz Fanon, ao revelar que: “ele compreendeu que só havia sujeito no ato de viver. Estando vivo, o sujeito encontrava-se desde logo aberto ao mundo. Só compreendendo a vida dos outros seres vivos e dos não-vivos compreenderia a sua: que ele próprio existia como forma viva; e que podia assim corrigir a assimetria da relação, introduzindo lhe uma dimensão de reciprocidade e de prestação de cuidados à humanidade”. 

 

Compreender essa dimensão é um exercício para aqueles que estão marcados pela luta, que são antecedidos por ela, e que, certamente, ela os precederá. “Talvez” e só talvez, no campo das ciências humanas é sempre arriscado afirmar, por isso a cor da pele das pessoas no encontro que promoveu o debate das exclusões no estado do Tocantins seja tão evidente, tenha ficado tão representativo aos olhos do observador mais sensível, ou já treinado para os vários cenários de ocupação política do território.

 

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas negras, ou seja, que se autodeclararam pretas e pardas, constitui 56% do total da população brasileira em 2022 (IBGE, 2022b). Ainda com Mbembe (2019), para aquele que se recusa continuar sob o jugo da exclusão (amenizando a expressão usada por ele), aconselha: erguer-se fora das categorias que o mantém rebaixado.

 

*Por Juliete Oliveira: Nasceu em Palestina (PA), mãe, poeta, educadora ambiental, ativista dos direitos humanos, parte da memória de um lugar chamado Araguaia. Escreve como um ato de subversão e para alcançar uma respiração possível em conjunto com outras mulheres.

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