Com câncer, idoso quebra o fêmur no HGP e aguarda cirurgia há 29 dias

“Alguém precisa fazer alguma coisa para mudar a situação desse lugar”, afirmou ao Portal T1 Notícias o filho de um idoso de 73 anos, com câncer e fratura no fêmur, que aguarda cirurgia há quase um mês

HGP, maior e principal unidade hospitalar do TO
Descrição: HGP, maior e principal unidade hospitalar do TO Crédito: T1 Notícias

“Alguém precisa fazer alguma coisa para mudar a situação desse lugar”. A declaração é de Fábio Leocárdio Delmondes, filho do idoso Gilberto Delmondes Cavalcante, de 73 anos, que está internado no Hospital Geral Público de Palmas, com câncer na tireoide e no pulmão, desde o dia 07 de julho deste ano, e que aguarda desde o dia 8 de julho para fazer cirurgia, devido a fratura que sofreu no fêmur, ao cair da maca na sala vermelha do HGP.

 

Fábio deu essa declaração ao Portal T1 Notícias enquanto a reportagem estava na maior e principal unidade hospitalar do Estado, na semana passada, com o objetivo de conversar com pacientes e acompanhantes para mostrar, do ponto de vista deles, a real situação do HGP.

a

 

Durante o período em que a reportagem esteve no local, no horário de visitas aos pacientes, entre as 14h30 e 15h30, foi constatado lotação no anexo, chamado pelos pacientes de ‘tenda João de Barro’, e ainda, macas espalhadas pelos corredores, com pacientes a espera de cirurgias, pessoas com câncer sem atendimento por falta de medicamentos e acompanhantes sem nenhuma acomodação, alocados embaixo de árvores e em cadeiras ao lado dos leitos.

 

Idoso com câncer

Fábio Leocárdio conversou com o T1 na entrada do anexo [tenda] e relatou que seu pai deu entrada no hospital no dia 7 de julho com dores na garganta. Após exames prévios, os médicos constataram câncer na tireoide e viram, também, que a doença já havia se espalhado até o pulmão.

 

“Os médicos levaram meu pai para a sala vermelha, por causa da gravidade da doença e da idade dele. No dia seguinte, por conta do glaucoma que ele tem, acabou caindo da cama e fraturou o fêmur. Como a situação ficou mais grave, os médicos transferiram meu pai para a tenda e disseram que iam fazer a cirurgia no mesmo dia”, falou Fábio Leocárdio.

 

De acordo com Fábio, os médicos suspeitam que o idoso esteja com câncer nos ossos, mas para ter certeza é preciso realizar um exame específico que, segundo ele, está suspenso por prazo indeterminado por falta de medicamentos.

 

Sem cirurgia

A reportagem conversou ainda com Sebastião de Sousa, que explicou que está há 36 dias aguardando cirurgia para fechar o braço, onde teve um corte profundo feito por golpe de facão, e todos os dias ouve apenas que a cirurgia será marcada no dia seguinte.

 

"Todo dia vem um médico aqui para olhar como está meu braço e a única coisa que escuto deles é que amanhã vai marcar a cirurgia, só que esse amanhã nunca chega e enquanto isso eu fico aqui nessa tenda correndo o risco de pegar alguma infecção, porque lugar pra circular o ar aqui é só a porta mesmo", disse Sebastião.

 


Médico reforça falta de remédios

Em contato com o T1 Notícias na semana passada o médico Hugo Magalhães relatou uma situação em que a equipe foi questionada pelo "alto custo" de uma enfermaria. "Se o paciente precisa diariamente de duas ampolas de um remédio que custa 3 mil reais a dose, eu não vou medir quanto vale a vida dele. Meu trabalho é salvar vidas, independente do valor do medicamento".

 

"No sábado tive que falar para a filha de um paciente que eu tinha nas mãos o último frasco de um remédio que o pai dela precisava, era o último em todo o HGP. Avisei que se ele precisasse de mais um pouquinho do remédio, o hospital não tinha. E eu não posso prescrever uma receita para ela comprar o medicamento na farmácia, porque posso ser processado. E aí, fazemos o que? Deixo o paciente morrer?", desabafou Hugo Magalhães.

 

O médico comentou ainda o fim dos plantões extras e disse que "não é tanto pelo dinheiro, mas nós não aguentamos mais. Nem se o Estado contratasse mais 10 médicos com regime de 40h, daria para fechar o mês de agosto. O déficit é muito grande. E nessas condições é difícil até encontrar um profissional que queira vir trabalhar aqui".

 

Os médicos lotados no HGP já haviam decidido que não farão mais plantões extras a partir deste mês de agosto. A decisão foi absorvida e em matéria divulgada na última quinta-feira, 31, pelo Portal, a classe avisou que o fim dos plantões extras será estendido a todas as unidades hospitalares do Estado, não só no HGP.  Dentre outros pontos que teriam levado a categoria a essa decisão está o atraso no pagamento e o fato de estarem sobrecarregados.

 

Nem tudo está ruim

Durante a reportagem, pacientes e acompanhantes destacaram a atuação dos profissionais do HGP. Conforme os relatos, os pacientes percebem que os profissionais - médicos, enfermeiros, técnicos - se esforçam para fazer um bom trabalho, querem atender bem, mas a situação é totalmente desfavorável. Os pacientes e acompanhantes disseram que os médicos são honestos e sinceros, deixam claro a falta de medicamentos e de material para fazer cirurgias ou outros procedimentos.

 

Outro ponto destacado positivamente pelos entrevistados é a limpeza. Segundo os relatos, os profissionais de limpeza fazem um bom trabalho e não há reclamações quanto à higiene da unidade hospitalar.

 

Sesau responde

A Secretaria Estadual de Saúde e o Hospital Geral de Palmas responderam aos questionamentos do T1 Notícias. Confira a nota na íntegra:


"Sobre os questionamentos deste veículo de comunicação a Secretaria de Estado da Saúde – SESAU e o HGP - Hospital Geral de Palmas informam que:

•       Os exames para diagnósticos estão sendo feitos regularmente na Unidade Hospitalar, mediante solicitações médicas e autorização da Central de Regulação do Estado.   Os exames só não são autorizados devido ao mau preenchimento do pedido pela equipe médica, falta ou incompleta justificativa da solicitação, e/ou documentação em geral incompleta. O exame de ressonância magnética, por exemplo, podem ser feitos em até 24h, após a autorização do pedido pela Regulação do Estado.

•       A Sesau já fez o levantamento das necessidades dos profissionais de saúde de toda a rede e estuda agora a contratação para os próximos dias de novos profissionais para suprir as escalas e garantir o atendimento da população.

•       A Secretaria trabalha com todos os medicamentos padronizados pelo Sus (Sistema Único de Saúde), de baixo ou alto custo sem restrições. Quanto aos materiais de alto custo e não padronizados pelo Sus, esses são analisados e de acordo com a necessidade e justificativas médicas são comprados.

•       Sobre o paciente Gilberto Demoldes Cavalcante, portador de câncer de tiróide, cardíaco e com glaucoma, o mesmo não teve condições clínicas de realizar o exame de biopsia (Pesquisa de Corpo Inteiro – PCI) fora do hospital, aguarda agora ser remarcado. A cirurgia ortopédica também será agendada conforme melhoras nas condições clínicas do paciente.

•       O paciente Sebastião Sousa da Silva aguarda uma prótese específica de acordo com sua patologia a qual já foi solicitada a compra. O paciente está sob os cuidados da clínica ortopédica.

•       O caso do paciente com luxação aguarda cirurgia ortopédica eletiva. Já estando cadastrado na Central de Regulação e será atendido nos próximos dias".

 

 

Comentários (0)