A sombra da distância entre Marcelo e Kátia escurece a esperança no Tocantins

A esperança na mudança que tomou conta da campanha sucedeu-se pelo pessimismo da realidade dura dos primeiros dias. Poderia ser melhor? Sem dúvida. A frustração de hoje é proporcional a esperança...

Marcelo e Kátia na campanha: união que fez vitória
Descrição: Marcelo e Kátia na campanha: união que fez vitória Crédito: Divulgação

Os 100 dias de governo  de Marcelo Miranda, que se completam nesta sexta-feira, 10 de abril, não trouxeram muito o que dizer ou comemorar, ao seu final. Ao analisar os últimos acontecimentos, me surpreendi tentando entender o porque.

 

Foi revendo as fotografias da campanha eleitoral passada, antes de começar a escrever que a imagem clara do sentimento que está disperso nas ruas me alcançou. Nos retratos de ontem e nos de hoje, há uma presença e uma ausência. 

 

Se antes, a esperança andava em dupla, hoje a frustração anda sozinha. 

 

São proporcionais, um ao outro: a esperança que o Tocantins alimentou na campanha e o pessimismo que se vê hoje, nas ruas com as ações ou a falta delas, que o governo deixa antever.

 

Tudo falta, tudo é pouco. Não há recursos para quase nada além de uma espremida folha de pagamento em que não cabem progressões, alinhamentos, aumentos, extras de nenhuma natureza. Não há recursos no Estado para investimento. Estamos fadados a um ano difícil, sombrio, de poucas saídas.

 

Ao final de três meses, mergulhados na situação difícil que o Tocantins vive, econômica e administrativa, há que se admitir que passou-se pouco tempo de fato para que se possa esperar resultado de governo. Ainda mais que o Tocantins não é uma ilha, divorciada do restante do País, onde o governo federal sangra numa crise política enquanto a Nação sangra numa crise econômica.

 

Aqui , intra muros, não há ecos de crise política. A oposição na Assembléia é amena. Parece reconhecer que a herança é de fato pesada e é preciso dar tempo ao tempo. Tempo ao governo de Marcelo para achar o rumo, acertar a casa, melhorar a equipe, enfrentar os

erros, coibir os mau intencionados.

 

Não é a oposição que preocupa. É o vácuo. 

 

Uma divergência ruim para dois e pior para o Estado

 

Independente dos detalhes que levaram à crise e ao afastamento os dois maiores líderes eleitos pelo povo tocantinense em Outubro do ano passado, o fato é que  o tempo vem cristalizando uma distância nefasta. Marcelo Miranda, o governador governa sem a ajuda de Kátia Abreu, a Ministra. Vai à Brasília e não marca agenda com a antiga companheira de luta e de palanque.

 

Por outro lado, em Brasília, rapidamente alçada ao conselho político de Dilma, a senadora do Tocantins é no contexto atual do poder na Corte, uma das figuras mais fortes. Dentro e fora do seu partido, o PMDB. E ainda assim, pode parecer que cada um segue sua vida política e administrativa, como gestores que são, sem que um faça falta ao outro. 

 

Não é verdade.

 

Com Kátia Abreu ao seu lado, somando esforços com inteligência, articulação política e o poder que tem em Brasília, Marcelo Miranda já estaria fazendo outro governo, acima da média, sem sombra de dúvidas.

 

Com Marcelo Miranda ao seu lado, Kátia Abreu seria hoje uma Ministra mais presente em seu próprio Estado, mais amada pelo seu povo, que veria nela a chama da esperança que seu poder de trabalho realmente significa e representa. Na classe política, é preciso dizer, a esperança é maior nela do que nele. Até por conta das circunstâncias.

 

As divergências entre os dois apequenam no entanto suas atuações em separado, no âmbito do Estado. Perde Marcelo por andar distante de Katia, e perde Kátia por andar distante de Marcelo. Mas mais que os dois, perde o Tocantins.

 

Explico: O governador move um Orçamento de R$ 9, 6 bilhões, que esmiuçado pelo secretário de Planejamento Davi Siffert, percebe-se, é insuficiente para fazer frente às necessidades do Estado. A senadora, por sua vez, alçada à condição de Ministra da Agricultura e Pecuária, movimenta, somados todos os recursos diretos e indiretos sob seu comando, uma cifra na casa dos R$ 90 bilhões. Em meio à crise que vive o governo federal, tem cacife para lançar uma agência do porte do Matopiba, que precisa solucionar problemas de infra estrutura e de natureza fundiária para afastar os empecilhos que a tornarão forte e competitiva.

 

Interesses pouco republicanos estimulando a cisão

 

Na classe política e entre lideranças empresariais por onde tenho andado e conversado, a lamentação sobre o afastamento dos dois ícones oposicionistas que juntos, retomaram o comando do Palácio Araguaia, é enorme. As ressalvas ficam por conta dos que querem lucrar com o distanciamento. Seja para ocuparem eles mesmo, com sua insignificância, os cargos que o grupo da senadora ocuparia em tempos de paz, seja para alimentarem outras alianças. Arriscadas, inseguras, que ninguém sabe para onde vão.

 

A questão é que o Tocantins precisa de toda a ajuda possível. E falando com a crueza que as palavras têm, Marcelo e Kátia só são hoje governador e Ministra porque se apoiaram na eleição passada. Ele sem ela, não teria legenda. E possivelmente nem condições jurídicas para sustentar sua candidatura. Não se fala em votos. Marcelo Miranda foi eleito, como bem disse Adjair de Lima numa entrevista lá atrás no começo da campanha, por um sentimento de resgate que a população tocantinense tinha com ele. Uma coisa que independia quase que da sua própria vontade.

 

O quadro hoje é gritante de tão diferente. Façam uma pesquisa agora na capital. A frustração é imensa. Simplesmente por que a esperança escureceu. O pessimismo tomou conta. Uma seqüência de fatos negativos e que não residem só na falta de recurso mas em como gerenciar toda esta crise, atingiu a crença das pessoas de que teremos um bom governo.

 

Kátia Abreu por sua vez tem o poder de articulação nacional, tem o comando do PMDB, reafirmado pela cúpula, tem a capacidade de trabalho e a força, mas tem rejeição fomentada pelo estilo com que toca sua vida pública. A leveza de Marcelo foi fundamental para consolidar uma chapa de forte apelo popular, que terminou garantindo sua eleição em meio ao bombardeio mortal que todos os adversários lhe impuseram.

 

A reaproximação de Marcelo Miranda e Kátia Abreu, rápida e urgentemente, é fundamental para resgatar aquele espírito que estava presente na vitória dos dois em Outubro. O espírito de otimismo. De que era possível vencer todas estas dificuldades. De que o que faltasse aqui para ele, ela buscaria lá. Não que isso vá resolver todos os problemas num passe de mágica, mas com certeza teremos outro quadro, outra realidade em bem pouco tempo.

 

Quem dos dois lados estiver atrapalhando esta reaproximação, precisa, urgentemente compreender o mal que causa ao Estado e dar passagem ao interesse coletivo, acima do individual.

 

Marcelo Miranda é governador, grande no coração do seu povo, democrático no exercício do seu poder. Kátia Abreu é das mentes mais brilhantes da política deste País, tem capacidade realizadora, enxerga longe e com certeza é ciosa hoje do seu poder. 

 

Nenhum dos dois no entanto é maior do que o Tocantins e seu povo.

 

Aos 100 dias de governo falta muito para por a casa em ordem. Há desencontros entre secretários. Não se viu nem sombra da reforma administrativa. O governo corre atrás de solucionar um problema atrás do outro e não consegue impor uma agenda positiva.

 

Os motivos? O Tocantins tem problemas demais. Toda ajuda, neste contexto é necessária. Não podemos nos dar ao luxo de ter os dois maiores líderes em mandato neste Estado de costas um para o outro, sem prejuízo coletivo.

 

Estamos chegando naquele momento em que o tempo e a distância recrudescem até desafetos que não existem. Mas ainda há tempo. 

 

É hora de um deles, ter a grandeza do primeiro passo.

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