Contra diversidade, Eli leva pastores e Arcebispo a Marcelo e pressiona Adão

Plano Estadual de Educação garante espaço na grade curricular para tratar temas de diversidade de gênero, alvo do combate duro de religiosos liderados pelo pastor e deputado Eli Borges...

O pastor e deputado Eli Borges, do PROS,  protagoniza uma cruzada que ia nos bastidores sem muito alarde até o final da semana passada, quando começou a tornar-se pública. Quer extirpar do texto-proposta do Plano Estadual de Educação e também dos Planos Municipais em curso, a orientação para que as escolas trabalhem os temas da diversidade em sala de aula.

 

O principal alvo: as escolas que pararam de trabalhar entre outros conteúdos, o “Dia dos Pais”e o “Dia das Mães”, passando a trabalhar o “Dia da Família”. A mudança vem de uma reorientação pedagógica que tem como objetivo abraçar a todas as crianças, pertencentes a todos os tipos de família -  e não só a tradicional -  de forma a que a escola não se torne um ambiente opressivo, excludente, mas inclusivo. Traduzindo: que todos se sintam acolhidos nestas datas e não se tornem alvo de preconceito ou exclusão, por pertencerem a núcleos familiares diferentes.

 

“Outro dia nós fomos distribuir convites para o Dia das Mães. Uma menina caiu no choro dentro da sala de aula. Encaminhei para a orientação. Aí descobrimos que ela tinha perdido a mãe há 23 dias”, relatou o professor Luciano Coelho, pedagogo e orientador de uma escola de Tempo Integral em Palmas. Ele que usou a palavra para contrapor a fala do Arcebispo Dom Pedro, no Seminário que debateu Direitos Humanos em Palmas na semana passada.

 

São filhos que só têm pais, crianças que só têm mãe, meninos e meninas criados por avós e muitos outros, que têm duas mães, ou dois pais, acolhidos por novos arranjos familiares. Crianças que poderiam estar na rua, ou em abrigos, mas que têm a sorte de ter uma família.

 

São para estes os conteúdos que visam garantir tratamento igualitário na escola.

 

Além disso, todos os adolescentes que na transição da infância para a juventude, se sentem “diferentes”da maioria, precisam encontrar no ambiente escolar cada vez mais um espaço de civilidade, de respeito à diversidade, de menos preconceito, para que passem por esta fase tão delicada sem sofrer bullyng, depressão, sem serem submetidos num ambiente da tutela do Estado, por sofrimento desnecessário. Somado ao que muitas vezes sofrem em casa.

 

A lei, a Constituição, trouxe algumas garantias preciosas que têm sido alvo do conservadorismo, do preconceito e da ignorância: a liberdade de expressão, a de escolha e prática religiosa e a igualdade de direitos independente do gênero.

 

No Palácio Araguaia, pressionando para mutilar o Plano

 

A ação mais contundente do deputado Eli Borges, que tem feito a defesa da imposição da visão religiosa que defende, nos espaços laicos do Estado, ocorreu há duas semanas, numa segunda-feira, quando reuniu pastores evangélicos e o Arcebispo de Palmas, numa audiência com o governador Marcelo Miranda e o secretário da Educação, Professor Adão Francisco de Oliveira. 

 

Foram defender a retirada do artigo que garante às escolas trabalhar os temas da diversidade dentro da igualdade de direitos. Argumentam que explicar às crianças que existem famílias diferentes e que elas devem ser aceitas, que pessoas nascem com sexo definido, mas podem mudar de identidade de gênero ao longo da vida - e não devem ser crucificadas por isso, nem perdem seus direitos civis por isso - é “ensinar a ser gay”.

 

Uma visão obtusa, que contraria tudo que a ciência descobriu sobre o tema ao longo das últimas décadas e o que as ciências sociais avançaram para clarificar. Traduzindo: ninguém ensina ninguém a se tornar gay, nem hetero. Nem a Igreja, nem a Escola, nem tampouco este é o objetivo do Plano Estadual de Educação.

 

O que a escola pode e deve ensinar é o respeito. Que a família é importante e deve ser valorizada, independente de ser tradicional ou não. Ensinar que os cidadãos são todos iguais perante a lei, não interessa se são homens que se relacionam com mulheres ou não, ou se são mulheres numa relação hetero ou não.

 

A vontade de impor uma ditadura de preceitos religiosos, num ambiente laico, a todos os que professem a mesma fé ou não, é que beira o absurdo nos dias atuais.

 

A imposição da temática religiosa, que quer pregar que família é apenas aquela constituída por um homem e uma mulher, excluindo pessoas, é mentirosa, é excludente, fere o direito.  

 

As religiões de matriz africana

 

No I Encontro do IPHAN com as Casas de Religião de Matriz Africana, a também educadora, Tânia Cavalcante, organizadora do Movimento Pela Vida que se consolidou nos últimos anos na Capital, fez outro alerta: a bancada evangélica tenta também, neste mesmo contexto, excluir dos temas de ensino de religiões, os conteúdos que fazem  menções às religiões de matriz africana.

 

Ela relatou o caso de uma professora da rede pública que incluiu na suas aulas o panteão dos Orixás, divindades africanas: "foi alvo de um movimento de pais evangélicos contra ela na escola. Se tivesse falado do panteão das divindades Gregas não teria problemas".

 

“Estão tentando retirar do Plano Estadual de Educação, todas as menções à diversidade de escolha religiosa”, alertou Tânia Cavalcante no último sábado, para dirigentes de casas alí reunidos. “Precisamos nos unir e nos tornar mais visíveis, é uma questão de sobrevivência”, defendeu.

 

Pressionando Adão

 

Nos bastidores, corre que o deputado na condição de aliado do governo, tem exigido que o secretário de Educação, professor Adão, faça um ofício a todos os secretários municipais, orientando a retirada do trecho atacado pelas igrejas, no Plano Estadual de Educação. Coisa que ele se recusa a fazer. Numa discussão sobre o tema, deixou claro que não o fará, afinal este não é o seu papel. Se o deputado quiser, que o faça por conta própria.

 

Ao T1 Notícias na sexta-feira, o Arcebispo enviou uma nota explicando sua posição, que alega ser a da Igreja Católica, contra o que chama de "ideologia de gênero", que ao seu ver fere o conceito de família. Ele cita frases de Bento XVI. Mais recente, menos conservador e pregando a ideologia do amor fraterno ao invés da exclusão, o Papa Francisco tem sido um bom exemplo de tolerância religiosa.

 

Num Estado tão jovem em que ainda se luta por direitos tão elementares, só nos resta torcer e vigiar, para que a pauta religiosa não atropele os direitos civis e de igualdade.

 

Sob pena de vivermos dias de treva e ignorância, patrocinados justamente pelos que deveriam pregar o amor e a luz.

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