Falando com o fígado: o que sobra dos embates entre Ivory, Clenan e Solange

Amigos, vimos hoje mais um desdobramento no embate entre o procurador de Justiça, Clenan Renault de Melo, o vereador Ivory de Lira e agora a deputada Solange Duailibe.

Ex-procurador geral, Clenan Renaut
Descrição: Ex-procurador geral, Clenan Renaut Crédito: Lourenço Bonifácio

 

A coisa toda começou quando o procurador, ainda investido no posto máximo do MPE, protocolou ação contra o prefeito Raul Filho e auxiliares por suspeição da prática de vários crimes, e pedindo seu afastamento imediato

 

A deputada Solange Duailibe(PT) subiu à tribuna da Assembléia Legislativa para fazer um duro pronunciamento contra o procurador, a quem considera, como postado ontem em seu Twitter “midiático e irresponsável” para ficar só em dois adjetivos.

 

Ao abrir fogo contra o Dr. Clenan, a deputada questiona muitas coisas e define a ação como “eivada de muitos erros”, arriscando-se a antecipar que para prosperar, a peça terá que ser aditada.

 

Do que se depreende da fala da deputada Solange Duailibe, na ânsia de protocolar a ação antes de deixar o cargo de procurador geral, Dr. Clenan teria assinado uma peça em que multiplica o número de propriedades do casal (ela e Raul) projetando uma evolução de patrimônio irreal e inexistente.

 

No âmago da manifestação está a resposta visceral por ver seu nome, o do marido, o da irmã e o do irmão, para ficar só nestes, expostos na rua numa ação que o Tribunal de Justiça acatou, mas que projeta suspeitas superlativas que podem não restar comprovadas ao final das investigações.

 

E até lá, os nomes rolam na praça, na mídia, como réus. Coisa que ficará na busca do google por anos, enquanto se arrastar o processo. E é isso, de certa forma, que incomoda a deputada: o julgamento antecipado na mídia.

 

Antes de Solange, no final de semana, o presidente da Câmara de Palmas, Ivory de Lira  atirou uma pedra fatal na vidraça desta ação: onde está a Delta, principal beneficiária do suposto esquema que teria sido operado por uma quadrilha para dilapidar o patrimônio público?

 

A explicação: ainda será objeto de outra ação, por que ainda está sob investigação. Por mais que se ouça com boa vontade as explicações do procurador, fica difícil compreender que depois de tanto tempo o MPE não tenha denunciado a empresa e seus diretores, optando por fazer outra ação.

 

E na resposta dada a Ivory, via imprensa cabe uma interrogação: como ignorar o fato de que Cláudio Abreu era o diretor regional da empresa? Está nas gravações que vieram a público entre ele e Cachoeira, está nos documentos da empresa que o MPE investigou, está até nos grampos que pouca gente ouviu, mas que a PF tem, a CPMI tem e que por força do seu papel, o MPE também tem que ter.

 

Soou retaliação contra o questionamento feito, anunciar convocação do presidente da Câmara para explicar a frase. O que não é bom para ninguém. A bem do interesse público, MPE e Câmara precisam se ater aos seus papéis institucionais. Ainda que cada um tenha eventualmente interesse exacerbado em  atacar, ou se defender.

 

Quem é o vereador?

Se ação está correta ou não, incompleta ou não, caberá à justiça avaliar, mas de cara o Tribunal de Justiça descartou o afastamento do prefeito Raul Filho, pedido sob o argumento de que era preciso afastá-lo preventivamente.

 

O que fica para a opinião pública é que o MPE perdeu o timing para fazer um pedido de afastamento preventivo. Afinal, no auge das denúncias, no vazamento do vídeo, ou mesmo quando o prefeito se recusava terminantemente a suspender o contrato com a Delta -  mesmo diante de reiteradas recomendações do MPE – não houve pedido de afastamento preventivo.

 

Agora, no apagar das luzes da gestão petista, a negativa do TJ, na decisão do desembargador Ronaldo Eurípedes, deixou o MPE com a pecha na mão.

 

Ela chega no mesmo dia em que o procurador, irritado com os questionamentos do vereador -  a quem denunciou em outra ação, a dos lotes transformados em área para postos de combustível – joga no ventilador que “um vereador” teria recebido dinheiro da Delta.

 

Resta uma pergunta importante: quem é o vereador?  Da maneira como foi colocado, pode ser qualquer um. A suspeição está lançada sobre todos. E é uma suspeição que o próprio Dr. Clenan emenda: “ainda estamos investigando”. Ele não descarta a possibilidade de que o vereador em questão possa ter feito um negócio legal com a empresa.

 

Sinceramente,  a impressão que dá é que sobra fígado e falta juízo no bate boca público que se formou em torno do assunto.

 

Vão demorar anos para que – com toda a celeridade que a Justiça consiga ter – nós, meros mortais possamos saber o que de fato vai restar comprovado sobre improbidade administrativa, formação de quadrilha, e corrupção ativa e passiva neste caso.

 

Até lá que o MPE prossiga cumprindo seu papel tantas vezes aqui elogiado. Mas sem excessos que possam desqualificar sua imagem, ou abalar sua credibilidad

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