Não somos todos índios… mas evoluídos, reverenciamos tudo que eles são!

Indígenas de diversas etnias e nacionalidades ja mudam o cenário da capital tocantinense com sua presença, para os Jogos Mundiais. Curiosos e extasiados os recebemos, hoje mais civilizados que antes

Crédito: Rafael Rodrigues/T1

A cidade está mais bonita, colorida, plural. Não por conta das celebridades, sub-celebridades, funcionários do governo federal (humildes ou desfilando arrogância) e todo staff da imprensa nacional e internacional que já chegou para cobrir a abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas 2015, nesta sexta-feira, 23, com a presença da presidenta da República.

 

São eles: os Pataxós, os Karajás, os Maoris da Nova Zelândia, os Cree do Canadá, os Kuikuro. Índios da América Latina, da Rússia, do Mato Grosso, da Bahia ou daqui, que já desfilam pelos shoppings, supermercados, camelódromo. Eles que arrumam suas peças de artesanato, exibem os coloridos de suas penas, causam frisson com  os corpos bem talhados, pintados, chamam a atenção com seus cachimbos exóticos de ervas perfumadas. Eles são os responsáveis pelo outro ar que se respira por aqui.

 

                            A cidade está extasiada, as pessoas curiosas para ver os índios e ouvi-los cantar e dançar além dos vídeos que já estão postados nas redes sociais.

 

O mundo volta seu olhar para Palmas, porque afinal, eles são remanescentes dos milhares de indígenas que habitaram a terra e em especial as Américas, antes que o homem branco aqui desembarcasse com armas e espelhos, ambição e cobiça, luxúria e doenças desconhecidas. Ao longo do tempo foram perdendo vidas, terras, espaço, tudo que somado ao respeito, buscam agora recuperar.

 

A onda de colocar sobrenomes indígenas nos seus, nas redes sociais demonstra a vontade de pessoas comuns e que algumas autoridades estimulam: a de que sejamos todos índios, num impulso de nos misturarmos, como que dizendo: somos todos iguais. E belos e exóticos. Nossa cultura que massifica e vai igualando pessoas, cabelos, jeans e camisetas tromba com quem não abriu mão de manter os pés no chão e os colares coloridos no pescoço.

 

 Opa, peraí. Não somos.

 

E é justamente reconhecer a diferença, que se torna tão necessário para enxergá-los como povo. Como povos. Diferentes. Com suas necessidades tantas vezes ignoradas. Tanto o paternalismo exagerado de quem arrasta uma (sub) consciência de culpa pelo extermínio ocorrido ao longo de séculos, quanto o sentimento de uma falsa superioridade que até hoje lhes caça os direitos elementares de cidadãos, são danosos e prejudicais.

 

Não somos todos índios. Somos brancos da cidade. Ou brancos da roça. Ou pardos, ou negros. Somos seres de outro mundo, outra vida, outra cultura. Com outras prerrogativas de cidadania, com outra visão de mundo. Mas do mesmo planeta.

 

Podemos ir aos jogos e aplaudir encantados às danças. E nos reverenciarmos com as cantigas e orações, com o fogo sagrado e os amuletos mágicos, como os que os Maoris deram ao prefeito de Palmas ontem, numa homenagem. Um amuleto de Jade e outro fabricado de osso de baleia. Artigo em extinção e de forte poder místico, na crença dos maoris. Representa uma serpente que engole o mal. Que protege aquele que a carrega. É um símbolo tão forte na crença e cultura maori, que só é repassado de geração a geração, pelo vínculo sanguíneo. 

 

Na Nova Zelândia, os brancos se curvaram à cultura Maori. A incorporaram aos seus ritos institucionais. A legislação a preservou. No café da manhã desta quinta-feira com os líderes dos povos que já desembarcaram o prefeito fez questão de tomá-los como exemplo ao lembrar que os desafios que os povos indígenas enfrentam em toda parte do mundo são os mesmos, mas que a Nova Zelândia fez diferente.

 

Ao reverenciarmos os indígenas, seu artesanato, sua comida, seus remédios, sua espiritualidade - realçada pelo ator Marcos Frota em sua fala também esta manhã - estamos dizendo: hoje damos valor a tudo isto, que há alguns séculos soava como ameaça. Hoje, menos etnocêntricos, sabemos colocar o mundo deles, no mesmo patamar que o nosso, mesmo que momentaneamente, num evento deste porte.

 

Ao abrir espaço para que índios de todas as etnias se congracem com brancos de todos os lugares do mundo celebrando sua cultura, estamos finalmente dizendo: somos todos irmãos. Todos merecemos viver e ocupar a terra. Ainda que alguns queiram plantar soja em larga escala e outros hortifrutigranjeiros, açaí e mandioca. Todos merecemos sobreviver e ter respeitadas nossas crenças. Sem preconceito.

 

Não somos todos indígenas, nem esta semana, nem depois que os Jogos Mundiais terminarem. Mas como é importante reverenciar tudo que eles ainda são, séculos e séculos depois, num exercício de sobrevivência. A todos eles, meus respeitos. Nossos respeitos. 

 

Indígenas que estão na nossa origem ancestral. Guardiões das florestas e dos ensinamentos de seus antepassados. Os seres humanos mais conectados com a terra mãe e com a natureza que ainda resistem neste planeta.

 

Que nesses jogos, oportunidade que eles têm de se encontrar e de se mostrar, nossos olhos e ouvidos estejam atentos e nossos corações abertos. E que os poderosos olhem para eles, com o olhar de quem é diferente. E respeita o diferente.

 

Bem vindos!

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