No caminho dos Azuis uma estrada pede socorro e empresários vivem sem telefone

Tempo de férias, tocantinenses e turistas de outros estados buscam nos nossos atrativos naturais, um refúgio para o calor e o cansaço. Nem sempre é fácil chegar até eles como deveria ser...

Trecho da estrada que dá acesso a Taguatinga
Descrição: Trecho da estrada que dá acesso a Taguatinga Crédito: T1 Notícias

Tomei o rumo dos Azuis, 500 km ao Sudeste, saindo de Palmas no último final de semana para levar as crianças numa semaninha de férias pelo interior do Tocantins. Pegar as estradas neste mês de julho é sempre uma aventura. Primeiro por que o Estado é lindo, cheio de atrativos turísticos, estruturados ou não, para se visitar.

 

Depois por que não faltam opções, em qualquer direção para onde se vá. Se as praias do rio Araguaia e do próprio Tocantins são um espetáculo imperdível, cachoeiras, pequenos rios e comunidades, enfrentar trechos de rodovias que pedem por socorro torna-se um desafio à parte.

 

É o que moradores, fazendeiros, comerciantes enfrentam por exemplo à frente de Dianópolis, seguindo para Taguatinga. São diversos trechos onde o asfalto praticamente acabou. Dois problemas: o tráfego normal da região, feito pelos moradores e negociantes e o acesso a um ponto turístico que está no Guiness Book e é um dos destinos mais interessantes que a região tem a oferecer: o menor rio do Brasil e o terceiro menor do mundo, os Azuis.

 

Parênteses.

 

A recuperação da TO-280 começou ainda no governo Siqueira Campos, que optou por contratar o Exército Brasileiro para fazê-la com o argumento de que poderia executar a obra sem licitar e por um custo mais barato. O problema é que o Exército trabalha mais devagar, e como me explicou o ex-deputado Paulo Roberto, que é da região “só com dinheiro na frente”.

 

Conclusão: o primeiro trecho, de Natividade a Dianópolis saiu depois de mais de dois anos. Atualmente, está em obras o trecho que vai de Aurora até a divisa do Estado,  mas Taguatinga vive uma espera que já vai para quatro anos…

 

Um assunto de Estado, para o governo Marcelo Miranda resolver.

 

Empreendedores reféns do isolamento

 

Por onde passei encontrei notícias do trabalho que o Sebrae já começou a fazer em torno dos Azuis, mas assim como a recuperação da estrada é obrigação do Estado, outro problema grave depende de boa vontade política para ser resolvido: a falta de uma torre que leve sinal de telefonia celular até o atrativo. E olha que para o governo, nem é um problema tão grande assim...

 

Sem telefone e sem internet, é uma dificuldade enorme para empresários tocarem seus negócios. Gente que é exemplo da iniciativa empreendedora, como Osmane José da Silva, que já foi Maitre do Castro’s Hotel em Goiânia, casou-se e mudou para Aurora onde está há nove anos nos Azuis, tocando o Restaurante Agenda 21. Com a comida que serve em seu restaurante às margens das águas límpidas do rio, ficou em segundo lugar no Prêmio Dolmã de Gastronomia este ano. Sua filha, Fernanda Gomes, foi para Brasília estudar, formou-se em administração e voltou para trabalhar no negócio do pai. É ela quem administra o restaurante e a página do Facebook, em que posta tudo dos Azuis e não só as informações do negócio da família.

 

No entorno do pequeno rio restaurantes e pousadas já permitem a acomodação do turista, mas ninguém consegue falar para fazer uma reserva. São 21 acomodações O único orelhão do local não funciona desde a campanha passada, quando os candidatos ao governo passaram por lá, ouvindo a reivindicação e prometendo resolver o problema.

 

Para responder pedidos de reserva e informações no Facebook é preciso ir até a cidade. Às vezes demora três dias para receber um pedido e dar a resposta. Sinal de internet em Aurora também não é lá estas coisas. Um investimento simples, numa torre para os Azuis é coisa pequena, em torno de R$50 a R$ 80 mil. O que ganha um cantor sertanejo de segunda linha para fazer shows na região. E até agora, nem governo, nem qualquer parlamentar se propôs a resolver o assunto com uma emenda. Prova de que política pública para turismo ainda é uma realidade a acontecer por aqui.

 

Se falta mais apoio do poder público, a comunidade se vira como pode. No restaurante de Osmane, diversos produtos artesanais, feitos alí mesmo: doce de banana, na folha da banana, doce de coco na palha do coco, pé de moleque e pão de mel caseiro, pinga de banana ou pimenta em conserva, seca e açafrão caseiro. Luxos do cerrado, aprimorados com zelo e criatividade.

 

Passar pelo Azuis e mergulhar nas suas águas límpidas e transparentes é um refrigério para a alma do viajante. Já viver ali, promovendo o desenvolvimento do lugar é outra história.

 

Da estrada ao telefone, o povo daquela região precisa e merece ajuda. Enão perdeu ainda a esperança...

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