No patamar da civilidade

Os reflexos de uma aliança que sela a paz entre Carlos Amastha e os Abreu, depois de muita divergência e troca pública de farpas, lança projeções de um futuro que inclui mais que trabalho na pauta...

Crédito: Lourenço Bonifácio

Amigos, eu vi!

 

O prefeito Carlos Amastha, sentado ao redor da grande mesa de madeira, na chácara da Senadora, hoje ministra Kátia Abreu, no começo da noite desta segunda-feira, 8, dividindo microfone com o deputado federal e presidente do PSD, Irajá Abreu. Aliados.

 

Não era apenas o fim do dia em que o PSD finalmente ingressou pela porta da frente na gestão do ex-pepista, hoje socialista, prefeito de Palmas. Era o fim de uma novela, quase mexicana, que teve de tudo, desde que o empresário, então dono do Shopping, entrou para a política para ser candidato a prefeito, carregando no peito uma mágoa contra a senadora.

 

De lá para cá a troca de farpas entre os dois desafetos tomou conta dos palanques, das declarações na imprensa, dos posts no Twitter.

 

Tudo isto findou ontem, com declarações de gratidão de um lado e de admiração e respeito mútuos por outro, fechando com promessas de trabalho conjunto em favor de Palmas.

 

O que mudou? 

 

Os mais céticos vão dizer que se tratava de cargos e acomodação de companheiros. Afinal o PSD que ajudou a eleger Marcelo Mranda ficou fora do governo e vem construindo seus espaços nas maiores cidades do Estado: Araguaina, Porto Nacional, Gurupi na próxima sexta-feira com Goyaciara Cruz… Em Palmas, emplacou dois secretários (Habitação e Desenvolvimento Urbano) e dois sub, os secretários executivos (Ciência e Tecnologia, mais Agricultura). 

 

Os mais otimistas vão argumentar que finalmente os grupos antagônicos por duas eleições (2010 e 2012) colocaram o interesse público acima das diferenças pessoais para unir esforços e construir uma agenda positiva em favor do eleitor, cidadão de Palmas.

 

As explicações podem variar de acordo com o humor de quem as dá, mas é fato que Amastha caminhou com segurança e determinação impressionantes do antagonismo eleitoral para o pragmatismo administrativo desde que seus candidatos perderam as eleições ano passado.

 

Do governador Marcelo Miranda, o prefeito se aproximou antes da posse e passou a ajudá-lo a construir estabilidade política na Assembleia. Da ministra Kátia Abreu, começou a reaproximar-se este ano, via emissários entre os quais se destacam de um lado Tiago Andrino -  neste aspecto muito hábil -  e de outro o vereador agora licenciado, Iratã Abreu. Foi recebido, zerou o passado e tirou aquela famosa foto com o trator que ganhou para o neto, no começo do ano.

 

Outros foram lembrados nos agradecimentos que Irajá fez ao prefeito pelo espaço que abre ao PSD e seus quadros: Adir Gentil e Milton Neris. 

 

Parênteses

 

Na verdade estes dois têm construído o PL na capital, que já antecipei aqui, tem sido a pedra de toque que aproximará em definitivo os dois grupos, dentro de um só partido. Para tanto faltam pouco mais de 2 mil assinaturas, motivo de parte do discurso de Irajá na noite de segunda-feira aos seus correligionários. O PL nascerá forte no Tocantins, e nacionalmente atrelado também à liderança de Kassab.

 

Fecha parêntese.

 

Ver Amastha sentado à mesa com seus assessores, ao lado dos secretários que nomeou mais cedo, e ouví-lo agradecer a recepção, me fez viajar no tempo até a primeira matéria de entrevero entre os dois: o então empresário e a senadora num bistrô na capital. De lá para cá, passando por temas indigestos como a Eadcon, a concessão dos pontos de ônibus para a empresa de Irajá, a campanha de Marcelo Lélis que a então senadora Kátia Abreu coordenou na reta final e depois a dela própria com Miranda.

 

Tudo águas passadas. Que não movem moinho.

 

Da cabeceira da mesa, de frente para o visivelmente insatisfeito Carlos Gaguim, o prefeito fez um discurso também histórico. Projetou o que imagina ser o futuro da aliança que declarou esperar que se torne perene: “unindo nossos esforços para trabalhar pela nossa Palmas e pelo Estado, ninguém vai nos tirar do poder pelos próximos 50 anos”. 

 

Antes havia dito uma frase igualmente forte: “a população do Tocantins é menor do que a de Goiânia. Como que é possível as pessoas poderosas e competentes deste Estado não poderem se unir para transformar a vida da nossa gente?” Foi aplaudido.

 

Há dois anos, num artigo,eu fazia um exercício de futurologia cogitando o que seria a capacidade de articulação e trabalho de Kátia Abreu e Carlos Amastha, afastadas as divergências, caso se juntassem para fazer as coisas acontecerem em Palmas.

 

Ontem o prefeito fez seu diagnóstico, razoável: o de que o Brasil vive uma crise econômica e de paralisação de obras e diminuição das frentes de serviço; o de que o Tocantins igualmente vive dias difíceis com um Estado quebrado, refém da folha de pagamento e sem condições de fazer investimentos. E em contraponto a estes dois cenários temos Palmas com a economia em movimento, com obras em andamento (por mais que muitos insistam em classificá-las como “maquiagem”) e com a expectativa tão necessária de que as coisas estão acontecendo e caminhando para melhor.

 

Sem poder ignorar o tempo de confronto e embate entre os dois grupos, o próprio Amastha resumiu o fim de uma etapa no relacionamento e o começo de outra: “tivemos nossas diferenças, mas chegamos agora a um patamar de civilidade”.

 

Fui embora com esta frase viva na memória.

 

Muito do que todos nós assistimos ao longo dos últimos anos, desde os palanques da eleição de 2010, até os de 2012, foi desnecessário: agressões ao bom senso.

 

Embora ausente nas duas ocasiões -  a posse dos secretários e a convenção do PSD -  a ministra Kátia Abreu foi a figura mais citada o dia todo. “Temos duas áreas que vão dar alegria aos brasileiros este ano: a Agricultura e o Turismo. E na Agricultura, temos uma guerreira tocantinense, competente naquilo que faz. Não podemos desperdiçar isto”, resumiu Amastha.

 

Embora a aliança seja com o filho e o PSD, através dela, Amastha sela de público a paz com a matriarca da família Abreu.

 

O momento foi histórico também porque indicou caminhos para 2016. De Gaguim à ponta da mesa, aos aliados do Palácio Araguaia, os reflexos com certeza virão mais cedo ou mais tarde. Afinal não se faz política nem alianças administrativas impunemente. Ficam sempre pelo caminho, os descontentes.

 

Para o palmense que segue alheio às tramas político partidárias e quer ver resultados práticos nas ações dos políticos, a notícia não poderia ser melhor.

 

Usando as palavras de Carlos Amastha: chegamos ao patamar da civilidade.

 

Que ela renda bons frutos, os frutos do trabalho. Apenas assim uma união tão improvável se justificará aos olhos da sociedade palmense, depois de tantas divergências.

 

O tempo, senhor da razão e da verdade, é quem nos dirá.

Comentários (0)