O perigo da descrença na classe política e o ceticismo quanto às instituições

A semente da desesperança, a falta de fé nos homens públicos está rondando de forma perigosa, não uma força política em especial, mas toda a classe política. E à quais instituições se pode recorrer?

 

Há dias analisando os últimos fatos da política tocantinense e conversando nas ruas e nos bastidores com pessoas das mais variadas classes sociais e formações – desde as mais simples, comuns, até professores, jornalistas e ...políticos - percebo um vírus rondando o ar, como uma espécie de praga.

 

A desesperança. O descrédito. A falta de confiança. Uma espécie de apatia que afeta desde quem está na base e portanto, é parte do poder, até quem está na oposição. E pior: que afeta os observadores mais atentos, os assessores, as lideranças que acreditaram e apoiaram este ou aquele candidato. Os descrentes estão em toda parte e se multiplicando.

 

Não conheço coisa mais perigosa do que o pessimismo. A crença de que as coisas dificilmente mudarão para melhor. O sentimento de que não há para onde correr nem a quem recorrer, e que a corrupção no seu sentido amplo - ou a apatia, sua prima irmã - tomou conta dos homens e das instituições.

 

Ouvi de um parlamentar a quem admiro e respeito dia destes algo que me deixou pesarosa: “não adianta abrir mão de um benefício, por que se eu não usá-lo, alguém usará”. A constatação que me saltou aos olhos é de que até os bons estão comprometidos, numa imensa teia, que ninguém se atreve a romper. É o sistema. É o esquema. Sabem aquele “sistema” de que fala o Capitão Nascimento no Tropa de Elite 2? Pois é, aquele mesmo.

 

E de onde brota tamanha descrença? Do noticiário. Este que nos conta aqui e em outros veículos de comunicação, o que anda se passando no mundo. No nosso mundo, bem aqui do lado.

 

Manchete de ontem: um cidadão com câncer, precisa de um remédio. Não tem como comprar. Ele entra na justiça e consegue uma ordem que deveria ser cumprida imediatamente para a compra e fornecimento do remédio. E o que acontece? Recurso. Para ganhar tempo e adiar o cumprimento de uma ordem, que garante um direito.

 

Manchete de hoje no Estadão: Deputados do Tocantins querem auxílio-Saúde. Se aprovado, o projeto dará direito ao parlamentar de ter suas despesas ressarcidas, sem limite. E lá no final da matéria, entre aspas: “O Ministério Público Estadual, que poderia questionar na Justiça as benesses pagas aos parlamentares, enviou projeto de lei para a Assembleia pedindo auxílio-moradia para promotores e procuradores”. Fecha aspas.

 

Outra pauta: a denúncia de que o ex-prefeito Raul alterou a lei de Uso do Solo para criar PAC’s – Áreas de Postos de Combustíveis, com a finalidade de beneficiar amigos, vereadores e agregados politicos. De um lado quem reclama é um grupo de empresários, donos de postos, que ao longo da história de Palmas tem se esforçado para manter este mercado fechado,  com preços controlados, com diferenças irrisórias entre o que se pratica nas bombas de combustíveis de Norte a Sul da cidade.

 

No popular: "cartel". Vivi dias duros no Procon na tentativa não só de documentar a prática, como de buscar meios legais de coibí-la. Não obtive sucesso.

 

Por um lado não posso defender os interesses de quem quer guardar o mercado para si, penalizando o consumidor. Seria trair minha história. Mas por outro, olho a relação de quem tem hoje o domínio destas áreas de postos e vejo de ex-vereador a empresários milionários e constato que as coisas dificilmente mudarão.

 

Conclusão: não consigo acreditar na inocência de nenhuma das partes.

 

Bola pra frente.

 

O que está acontecendo com o Tocantins? Depois de 22 anos acompanhando os politicos e a política local observo uma estagnação lamentável das forças políticas neste lugar.

 

Onde estão os idealistas? E mais: Onde estão os idealistas com capacidade prática de gestão? Não existe o Novo. Esta foi uma ilusão criada nas urnas na eleição passada. A capital assiste  e comprova a cada dia, que o novo tem muito do mesmo. Tem demais do mesmo. Consegue ser pior, em muitos aspectos, que o mesmo.

 

E aí, para onde vamos?

 

Morto em dezembro de 1980, por um fã, o ex-beatle, Jonh Lennon, deixou no legado musical e na história de vida marcada por um comportamento rebelde e controverso, algumas boas reflexões.

 

Uma delas, reflete este momento de descrédito, de desesperança nas pessoas. Ele dizia: “Não confio em ninguém. Só confio em mim e em Yoko”.

 

Quando falo com as pessoas nas ruas e nos bastidores sobre política, tenho perguntado: "em quem você acredita para governar o Estado na sucessão do governador Siqueira?"

 

As respostas são as mais variadas possíveis. Mas a maioria não sabe. Não enxerga nomes. Vê defeitos demais nos que aí estão. Há descontentes no governo e na oposição. E do que ouço, tenho percebido, que há uma descrença generalizada na classe política tocantinense. Talvez não seja privilégio nosso, mas sinto o que está aqui, bem próximo. Não é fruto de estudo científico, mas é quase palpável de tão evidente.

 

O que haverá pior que a descrença e o pessimismo? Na minha opinião, nada.

 

Talvez refletir sobre isso - aonde está nos levando a consequência dos seus atos- seja a maior e mais urgente necessidade que os politicos tenham atualmente.

 

Pode parecer que está tudo bem. Pode parecer que a próxima eleição será como as outras: baseada na moeda de troca. Mas não. O que está no ar é muito forte. E não é uma onda temporária de mudança. É algo bem mais grave e perigoso. Podem acender os sinais de alerta.

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