Vidas que não valem nada…

Outra mulher é morta em Palmas, após seus vizinhos ouvirem discussão com companheiro, que fugiu do local deixando um corpo no chão e uma criança chorando ao lado. Até quando a impunidade seguirá?

"A  Morte é a companheira do Amor. Juntos, eles regem o mundo". A frase, de Sigmund Freud, o homem que melhor entendeu as compulsões e o comportamento humano, foi cunhada num contexto. Relembro-a, em outro, o dos crimes "de amor". Uma inversão criada por uma sociedade doente, em que as pessoas se julgam proprietárias de outras, em nome de um sentimento que permite tirar a vida.

 

Para mim, não foi o amor, mas o machismo, o desequilíbrio emocional e a impunidade os responsáveis por fazer mais uma vítima em Palmas na noite de sexta-feira passada. Ana Lúcia, 23 anos, deixou de ser um nome e uma vida, para integrar uma estatística: a das mulheres mortas por maridos, parceiros, ex-companheiros. Homens que se consideram donos das mulheres com as quais se relacionam e não aceitam ser substituídos, deixados, no curso da vida, em que relacionamentos começam e terminam.

 

Aponto o machismo como motivo para estes crimes, cada vez mais torpes e  cruéis, porque ainda vivemos numa sociedade em que o homem é criado para ser o “dono” das “suas” mulheres. Trair é comportamento mais aceitável para o homem e reforça sua masculinidade. Ser traído é crime que merece ser punido com as próprias mãos. Seja espancando ou matando.

 

O nome de Ana Lúcia se junta ao de outras mulheres em Palmas, mortas há mais tempo e em outras circunstâncias. Mas os assassinos continuam impunes. Morreu em casa, a professora Heidy. Antes dela, morreu em 2010, Elizabete Contini, professora de Artes, que iluminou o caminho de tantas crianças e adolescentes com seu amor à profissão.

 

Crimes que se arrastaram e outros que ainda se arrastam pelo tempo, dando oportunidade a que suspeitos e condenados fujam de pagar na justiça pelo que fizeram. 

 

É por isto que a impunidade é também a mão que sustentou a faca com a qual Ana Lúcia foi ferida tantas vezes, na quitinete onde vivia com o filho, uma criança de 3 anos, que jamais será a mesma.

 

Foi encontrada aio lado do corpo inerte da mãe, aos prantos. Um choque emocional, um encontro com a violência e a morte que a marcará para sempre.

 

É este o tipo de crime que tem alimentado as notícias mais lidas de portais e jornais. Mulheres morrendo por que “seus” homens não aceitaram o fim de um relacionamento, ou por que descobriram que estavam sendo traídas. 

 

Até quando?

 

Falamos de outras culturas, de outros crimes envolvendo mulheres pelo mundo a fora, com o ar julgador de quem se espanta, mas ignoramos a violência que explode entre nós, sem que muita coisa seja feita para mudar isto.

 

É preciso atitude. É preciso reação. Ou vamos continuar enterrando Ana Lúcias, Heidy’s, Elizabetes… enquanto seus filhos choram o vazio que elas deixam neste mundo desigual.

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