A proibição no Brasil não impediu que os cigarros eletrônicos se tornassem uma ameaça disfarçada à saúde pública. Esses dispositivos, popularmente conhecidos como vapes, invadiram o cotidiano de jovens e adultos com a falsa promessa de serem mais seguros que o cigarro tradicional. Contudo, evidências científicas apontam o contrário: eles são uma porta de entrada para uma série de doenças graves, causando dependência e podendo até mesmo levar à morte.
Apesar da venda não autorizada no país, a presença dos vapes cresce exponencialmente, principalmente entre os mais jovens. Dados recentes mostram que quase 20% das pessoas entre 18 e 24 anos no Brasil já experimentaram o dispositivo, um número alarmante que ressalta a urgência do problema. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o tabaco como uma epidemia global e os cigarros eletrônicos se encaixam nessa categoria.
Um coquetel tóxico
O vapor inalado dos cigarros eletrônicos não é inofensivo. Análises revelam a presença de mais de 80 substâncias tóxicas, incluindo metais pesados como chumbo e níquel, compostos cancerígenos como formaldeído e acetaldeído, e doses elevadas de nicotina. Essa substância, com potencial viciante comparável ao da cocaína e da heroína, atua rapidamente no cérebro, criando uma dependência duradoura.
“Em jovens, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento, a nicotina pode causar prejuízos na memória, atenção e capacidade de aprendizagem”, destacou Andrea Amaral, pneumopediatria, titular da Sociedade Brasileira de Pneumologia e professora de Medicina em Palmas.
Além disso, de acordo com a professora, a inalação desses compostos químicos eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca, endurecendo as artérias e aumentando o risco de infarto e acidente vascular encefálico (AVC).
“Os pulmões também são seriamente afetados, agravando doenças respiratórias preexistentes como asma e bronquite. Em casos extremos, o uso do vape pode desencadear a Evali (lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos), uma inflamação grave que pode ser fatal”, acrescentou.
Estudos recentes identificaram até mesmo a presença de substâncias cancerígenas na urina de usuários, evidenciando o perigo silencioso do uso.
Uma nova geração de dependentes
A indústria do tabaco, buscando garantir uma nova geração de consumidores, investe em marketing agressivo. Sabores adocicados como morango, chocolate e menta são usados para atrair principalmente o público jovem, naturalizando o uso dos dispositivos em ambientes sociais. O sucesso dessa estratégia é inegável: usuários de cigarros eletrônicos têm até três vezes mais chances de se tornarem fumantes de cigarros tradicionais.
Diante de tantos riscos, especialistas e organizações de saúde são unânimes: a melhor maneira de se proteger é não começar. Para aqueles que já iniciaram o uso e desejam largar o vício, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito. O cigarro eletrônico não é moderno, nem inofensivo. É apenas a nova face de um inimigo que, quando não mata, deixa sequelas.
Comentários (0)