Marco Feliciano na CDH : um tapa na cara do Brasil civilizado

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal tem entre suas atribuições, funcionar como um fórum de debate e de defesa dos direitos básicos que todo ser humano tem. E por extensão, todo cidadão...

 

Pois bem. Em meio à uma polêmica ensurdecedora, o pastor Marco Feliciano foi indicado pelo PSC e eleito por 11 de 12 votos de seus pares, para presidi-la.

Depois de intensos protestos e retirada de manifestantes à força pela segurança da Casa ontem, quarta-feira, 6, a votação aconteceu hoje confirmando o pastor na presidência.

É uma eleição em que mais uma vez a Câmara Federal vira de costas para a opinião pública e envergonha o Brasil.

Não se trata de uma divisão político partidária entre os que apoiam ou não o pastor. Trata-se literalmente de colocar o lobo para defender as ovelhas. Não vai dar certo.

Quem é Marco Feliciano

O homem é um colosso na hora de exercer seu pastorado. Num vídeo que circula na internet, exibe seu viés mercantilista ao dizer que os fiéis devem doar dinheiro para receberem milagres. E ironiza um fiel que doou o cartão de crédito, mas não juntou a senha. Hilário? Absurdo? Real. Está na rede para quem quiser ver.

Cheio de opiniões controversas, e análises bíblicas utilizadas para favorecer seus argumentos e intenções, é dele a pérola:

"A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!", postou no Twitter.

Uma explicação racista. A Bíbilia a serviço de uma pregação de supremacia racial. E que traz implícito o argumento de que os africanos seriam atrasados, amaldiçoados e portanto merecem sofrer.

É para este homem que os deputados entregaram a presidencia da Comissão de Direitos Humanos. Num País de maioria negra, ou afrodescendente.

Mas não pára por aí.

É sabido o quanto as religiões evangélicas abominam e condenam a homossexualidade. Têm o direito de pregar o que acreditam nos limites de suas igrejas. Ainda que seja discutível a que comportamentos de intolerância e violência este tipo de pregação possa levar.Mas levar este discurso para uma Comissão de Direitos Humanos extrapola o limite da ética, do decoro, da civilidade.

Neste quesito, o pastor, deputado federal, usa o mandato para defender pensamentos como o que postou na internet:  "a podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime e à rejeição".

Isso é ou não é uma licença tácita para a prática de crime? Uma espécie de justificativa para os que praticam crimes de ódio? É a “podridão” dos sentimentos de amor que pessoas do mesmo sexo tenham entre si que leva ao ódio, na argumentação do pastor.

Um "juiz" comprometido com a prática criminosa

Então, pergunto, de que forma esta Comissão de Direitos, sob a sua presidência atuará para garantir que cidadãos homossexuais tenham seus direitos à vida, à segurança, ao livre exercício da sua afetividade?

Que tipo de juiz é este que o deputado e pastor Marco Feliciano pretende ser com uma opinião tão fundamentalist, insidiosa, ofensiva, agressiva à milhares de brasileiros?

Pois foi à isto que a Câmara Federal submeteu o Brasil.

É um absurdo? Sim. É inaceitável? Sim. Mas está feito.

E nós, outros, o que vamos fazer? Esta é a questão.

Por hora, um acordo politico foi sobreposto sobre a lógica, sobre a racionalidade, sobre qualquer argumento de razoabilidade.

É por estas e outras que a imagem dos politicos hoje em dia está tão comprometida. Com esquemas escusos, encastelados em feudos, figuras destrutivas como o pastor Marco Feliciano se elegem. E somos obrigados a suportá-las decidindo os destinos do País.

Na presidência da CDH, no entanto, foi demais.

Bem fez o deputado federa maranhense Domingos Dutra do PT, que renunciou antes da votação ao cargo de presidente e encerrou seu discurso chegando às lágrimas diante da decisão de que a comissão se reunisse sem que manifestantes pudessem entrar nas dependências da Câmara.

7 de março. Um dia para ficar na história como um marco do atraso. O dia que a Câmara deu um tapa na cara do Brasil civilizado.

Comentários (0)