Um crime brutal a desafiar nossa tolerância com a violência

Morreu Palhinha, aquela alma boa com a qual muitos de nós da comunicação pudemos conviver ao longo das últimas duas décadas na área administrativa da Secom...

 

O portuense, já aposentado, era dessas pessoas de uma doçura no trato impressionante. Simples, humilde, atencioso. Nunca soube que ele tivesse um desafeto, um inimigo sequer.

 

Mesmo assim, aprouve a uma dessas pessoas sem limites, das milhares com as quais somos obrigados a conviver neste mundo, tirar-lhe a vida. E abandonar o corpo, com requintes de crueldade, à margem de uma estrada de terra, no caminho para o nosso Taquaruçu.

 

Quanta tristeza!

 

Conversando nesta tarde com o professor Wolfgang Teske, amigo de longas datas, também jornalista de formação, ele me dizia: “precisamos fazer um movimento contra essa violência, essa impunidade. Do jeito que está pode ser qualquer um de nós, amanhã”.

 

Mas foi um de nós. Palhinha é mais um de nós que não deu motivo à violência extrema com que foi tratado. Sua vida - dom de Deus - foi desprezada como algo banal, descartável, por alguém que certamente já vive a violência como algo corriqueiro. Quão doente está nossa sociedade.

 

Um parêntese importante. Assaltos seguidos de morte tem atingido com muita frequência homossexuais no Estado do Tocantins. Crimes de ódio, em que além de roubar os bens, como que num desejo de vingança, numa violência sem por quê, bandidos levam a vida que não podem carregar. E calam vozes, sorrisos, destruindo famílias: pais, irmãos, amigos, companheiros. É inaceitável!

 

Não sei se foi este o caso de Palhinha, que até agora não tem explicação, nem motivos esclarecidos pela polícia.

 

O que sei é que é mais um corpo que cai pelas mãos de um bárbaro. Até quando poderemos suportar isso? O que a lei pode fazer por nós, sociedade desprotegida, tanto mais quanto os crimes vão restando impunes e a máquina do judiciário permite que bandidos andem à solta, por diversos subterfúgios, brechas e argumentos?

 

Um delegado federal morre na porta de casa, executado por um ladrão. Um professor morre no Bico do Papagaio, assassinado. Outro é morto em Colinas, também absurdamente. Nosso saudoso Palhinha, tomba aqui, bem perto do caminho de casa, do caminho que leva às cachoeiras, ao lado da beleza exuberante da natureza que assiste silenciosa essa decadência dos homens, enquanto humanidade que se auto-destrói. Estas têm sido nossas cenas urbanas.

Outro luto, noutro sábado, com espírito de luto coletivo.

Na histórica Porto Nacional, o corpo de Palhinha será velado e enterrado. É o segundo velório esta semana que me fará atravessar a mesma estrada. O primeiro foi o da também querida e saudosa professora Irecê Rodrigues da Silva, esposa do professor Rui Rodrigues, mãe da amiga Adrienne Rodriguez, cujo corpo foi enterrado na última quarta-feira. Uma morte bem diferente, ao final de uma vida de serviço, maltratada pela doença.

 

Algo que não se pode evitar, é mais fácil de se aceitar, por mais que a dor vá acompanhar amigos e parentes por um longo tempo ainda.

 

Não é o caso deste e de outros assassinatos. É preciso que a lei seja mais severa e que o sistema que prende, julga e pune, se torne mais eficiente para coibir, pelo exemplo, crimes como este que vitimou Palhinha.

 

Que o inconformismo, meu e de muitos, seja a mola propulsora da cobrança dos indignados para mudar esta realidade. Esta violência que nos agride, constrange e limita a todos e que precisa ser exemplarmente punida.

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