As pesquisas de opinião e a opinião pública sobre as pesquisas

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As pesquisas de opinião pública são usualmente realizadas e publicadas ao redor do mundo, sobretudo quando têm como objeto de interesse aspectos sociais e políticos. Elas são a razão de muita discussão por parte do público, jornalistas e políticos ao ponto de países europeus restringirem a sua realização e a sua publicação nos estágios finais de campanhas eleitorais.

 

Não há como negar o interesse no papel das pesquisas de opinião em sistemas democráticos.

 

As pesquisas de opinião devem ser baseadas em medições científicas e representativas da opinião pública a ponto de poderem ser generalizadas sem que exerçam alguma influência estatística sobre a população estudada. Nesse sentido, a coleta de dados deve respeitar as proporções da participação de cada segmento social no contexto geral a fim de evitar distorções em seus resultados.

 

A ESOMAR, uma organização mundial de pesquisa de mercado, criada na Europa e, atualmente, representada em 130 países, está disposta a combater o uso impróprio do termo Pesquisa de Opinião na descrição de atividades que vão de encontro ao seu Código de Ética.

 

Em âmbito nacional, a ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa) é a entidade vinculada a ESOMAR que possui em seu diretório de afiliados empresas compromissadas em aplicar em suas atividades instruções e metodologias que asseguram padrões mínimos de confiabilidade à suas pesquisas de opinião, de forma que uma primeira análise sobre confiança na informação propagada de determinada pesquisa passa necessariamente por perquirir se a entidade entrevistadora está também comprometida com os critérios e regulamentos orientadores da sua atividade.

 

A campanha presidencial norte-americana de 1936 ofereceu ao mundo a primeira e a melhor demonstração da inexatidão da abordagem “pergunte a milhões”. A pesquisa do Literary Digest enviou questionários a 10 milhões de americanos, 2.376.523 responderam e a análise mostrou uma vitória de Landon, (se você se perguntar “Quem é Landon?”, você já sabe que houve um erro!). George Gallup utilizando amostras construídas cientificamente de apenas 3.000 respondentes, previu a vitória de Roosevelt. Esse foi o verdadeiro nascimento da moderna pesquisa de opinião e a lição ainda é útil nos dias de hoje. A pesquisa do Literary Digest errou por uma margem de 19%.

 

O relato acima demonstra a equivocada utilização de um mega banco de dados na construção, não científica, de um resultado, ao passo que numa amostragem muito menor, mas talhada com base na ciência, mostrou-se melhor indicadora da opinião da população.

 

Daí se extrai a preocupação da utilização não científica da coleta de dados amostrais, através dos mega banco de dados, ou por meio do “push polling”, do tele-voto e das pesquisas pela Internet, que não podem ser tratados como pesquisas de opinião.

 

O “push polling” tem sido uma característica da política em alguns países utilizando-se deliberadamente de questionários e amostras tendenciosos. Em alguns casos, procuram produzir falsos resultados que apoiam determinado ponto de vista ou candidato através do uso de perguntas tendenciosas a convencer o entrevistado, como por exemplo uma indagação sobre um problema existente e da opinião do entrevistado sobre esse problema, para logo depois indagar acerca do voto em avaliação a determinado político que com a demonstrada insatisfação possui alguma correlação.

 

O tele-voto e as pesquisas de Internet, por sua vez, consistem em provocar a manifestação sobre opinião de telespectadores, leitores ou visitantes do site sobre determinado assunto ou candidato. Os resultados advindos dessas manifestações não são capazes de generalizar o entendimento para toda a população porque representativos, quando muito, da opinião da audiência e/ou de seguidores não sendo capazes de produzir amostras confiáveis e representativas.

 

Esse texto não tem como objetivo descredibilizar a atividade das empresas de pesquisas de mercado, mas orientar o cidadão acerca dos critérios orientadores da confiabilidade dos trabalhos apresentados a fim de conduzi-los a um juízo crítico, bem como, na iminência da realização das eleições de 2022, estimular que possam manifestar-se livremente nas urnas, com base em suas convicções, e não orientados por pesquisas eleitorais, principalmente aquelas não compromissadas com os critérios que lhe assegurem higidez.

 

Marcus Senna Calumby

Presidente da Comissão de Defesa do Patrimônio Público e Combate à Corrupção da OAB/TO

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